Desculpa, eu não sei fingir interesse. Não sei estender o papo quando eu não quero levar o alguém pra caminhar na beira da praia. Uma hora todo mundo passa e você passou. Teve um tempo em que eu achei que iria guardar você pra sempre no baú das boas lembranças, mas nem sempre é assim. É que chega uma hora em que a gente perde o interesse, que o sentimento de unha cravada na pele, de ácido corroendo os órgãos cansa e a gente para de se importar, e correr atrás, e vasculhar a vida da pessoa porque pouco importa. E isso não quer dizer que a gente encontrou outro alguém pra ocupar o espaço que ficou, ou que o que a gente sentia se perdeu porque não era verdadeiro. Significa que uma hora todo mundo passa, que uma hora, quando cansa, quando desgasta a caminhada toda, quando o excesso de soco no estômago sobrecarrega, a gente perde o interesse.
Eu perdi o interesse em você. Gostei de você pra caralho,
assumo, mas não gosto mais – e assumir não é fraqueza, é ter consciência que
passou, marcou e fez crescer; e eu cresci pra caralho no esbarrar com você.
Perdi o interesse quando percebi que ia precisar desistir de mim pra me atirar
em você; quando percebi que me atirar em você seria o mesmo que cair de cabeça
em uma piscina sem água, que do seu lado em vez de conforto eu seria solavanco,
seria colisão entre eu e o sentimento de me sentir sozinho, de me sentir vazio
porque você nunca se fez presente de verdade, nunca esteve aqui como dizia
estar e sempre se negou a estender a mão. Percebi quando apaguei a luz e fechei
a porta e você não disse nada; quando me dei conta que me atirar em você só
seria possível se eu deixasse a bagagem de uma vida toda para trás, porque você
nunca soube conviver com passados e as outras pessoas a nossa volta. Agora,
você não saberá conviver comigo, porque virei passado.
Talvez você também não saiba fingir interesse, não sei. Ou,
talvez você saiba até demais e eu me deixei enganar. Não me engano mais; não me
engano porque do seu lado eu seria solidão. Você estava do meu lado, mas vagava
longe; estava aqui, mas não se fazia presente, não se mostrava perto; estava do
meu lado, mas era impossível te alcançar porque você se esquivava e corria. E
chega uma hora que desgasta, sabe? Chega uma hora em que se entregar sozinho
sobrecarrega, quando o fardo fica pesado demais para carregar sozinho porque se
sentir sozinho quando se tem alguém do lado é se sentir vazio – e não tem nada
mais doloroso do que se sentir vazio. Eu não tenho interesse em me sentir
vazio, e também não tenho mais interesse em você.
Chega uma hora que a coisa toda sobrecarrega e a gente abre
os olhos pra perceber que não precisa do outro pra se sentir feliz, que o outro
em vez de felicidade tem trazido vazio, tem trazido solidão e tem se feito
ausente. Talvez você não sinta nada com a minha partida porque já faz um tempo
que você tá perto e vive longe. Talvez você não aprenda a conviver com isso
tudo quando eu for embora porque você nunca soube lidar com passados. Mas pra
você sempre pouco importou, não foi? Agora pra mim também.
Eu não sei fingir interesse. Não sei estender o papo quando
não quero levar a pessoa pra passear na beira da praia nem pra morar em mim – e
eu já quis te levar pra molhar os pés na água e te ofereci meu peito pra você
fazer abrigo, mas você fez com que o fardo ficasse pesado demais quando me
pediu pra deixar tudo pra trás para que eu pudesse me atirar em você. Só que
você é piscina sem água, e me atirar em você seria sentença de morte de mim
mesmo.
Eu perdi o interesse em você, e isso me fez desistir de nós
dois.
Uau
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